sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Escola Profissional da Lousã edita livro

Reproduzimos artigo publicado no semanário "Jornal de Coimbra",anunciando o lançamento do livro.

ESCOLA PROFISSIONAL DA LOUSÃ EDITA LIVRO

"Commercio da Louzã — 500 dias até à República"

"O ano de 1909 entrara com ministério da presidência do regenerador Campos Henriques, o novo governo era recebido como de reacção ao avanço da onda republicana, como um ministério de defesa monárquica.
A 2 de Fevereiro realizara-se a assembleia do partido regenerador; a 10 de Fevereiro teve lugar, em Vila Viçosa, um encontro entre os reis de Portugal e de Espanha. O encontro haveria de levantar grande celeuma nos arraiais republicanos, alentando certas esperanças nalguns sectores monárquicos.
A nova sessão legislativa anunciou-se, logo de entrada, tumultuosa. Uma proposta de lei do ministro Espregueira, para um empréstimo de quatro mil contos foi combatida com a maior violência.
As oposições tentaram conseguir a constituição duma comissão parlamentar de inquérito. A maioria recusou-a. Rebentou o tumulto. Um deputado munido duma pá de bater bifes, foi despedaçando várias carteiras, enquanto os outros repetiam em grita: — Inquérito! Inquérito!
Campos Henriques demite-se, sendo substituído por Sebastião Teles, em ministério de duração fugaz, cumprindo apenas 27 dias de governação.
Estávamos a 11 de Abril de 1909, dia da publicação do segundo número do "Commercio da Louzã", jornal agora desfolhado pelo Projecto "LOUSÃ EM DATAS". Uma iniciativa da Escola Profissional da Lousã, traduzida no livro "Commercio da Louzã — 500 dias até à República", a apresentar publicamente no próximo sábado, dia 5 de Outubro, no Auditório da Biblioteca Municipal da Lousã.

UM JORNAL SEM POLÍTICA… EMPENHADO POLITICAMENTE

Ao lançar o seu programa aos mares da crítica, o "Commercio da Louzã" anunciava-se arredio de partidários e partidos — "um jornal sem política", como antevia o colaborador "João Ninguém".
Mas a política foi tema que sempre esteve presente no periódico lousanense, neste longo prólogo da República que acompanhou. No seu programa, o t'arrenego à política talvez quisesse significar ausência de comprometimento declarado a um determinado partido. Mas os textos desmentem que o jornal evitasse o empenhamento político, no caso em defesa do ideal republicano.
Não se renegava a política, mas a "má política" da qual chegavam constantes ecos da capital e doutras paragens, através de abundantes citações e reproduções integrais de prosas de outros jornais em Lisboa, Aveiro ou Coimbra publicados.

CRUZADA PELA CHEGADA BREVE DA "LUZ"

Não se assumia oficialmente como republicano, apesar das confessadas "ideias republicanas dos seus directores"; mas o "Commercio da Louzã" fez cruzada pela chegada breve da "LUZ", que aqui significava o advento da República, por troca com um regime decrépito, que levara Portugal à condição de um "leão moribundo".
Páginas desfraldadas a favor da instrução popular, da aprendizagem da leitura a desaguar no leito sofrido dos pobres a quem os herdeiros da sorte e da fortuna desprezavam; páginas impressas com o vigor de quem clamava contra as injustiças do caciquismo local, do clero reaccionário e dos "camaristas" lousanenses que pareciam saber apenas da sua vidinha tratar.
Pela instrução popular, significava tomar partido contra um trono que assentava "sobre um pedestal chamado Ignorância", contra uma "monarquia nova" que esclerosava de velhos problemas.
Contra o clero conservador, porque sustentáculo de um trono agora com face de um "jeune roi" pelo jornal considerado incompetente, entre outros variados mimos.
Contra a Rotina, a Intolerância e a Escravidão, porque o contraponto dava pelo nome de Liberdade, Razão e Justiça.
Querendo apurar dominâncias ideológicas pelo texto dos sessenta e poucos números cumpridos até ao dealbar da República, diremos que o "Commercio da Louzã" se fez no berço do ideário socialista, uma "extrema esquerda liberal" que José Tengarrinha encontrou nos jornais portugueses que não eram declaradamente órgãos de partidos.
Um jornal que lutava contra os poderosos também para se manter de pé, que de quando em vez lá surgiam as referências à devolução de vários exemplares, ou à má vontade de quem, podendo, negava a publicidade que em tempos sobejara para os antecessores periódicos publicados na terra, um "rotativo" e outro "franquista".

HOMENAGEM A JÚLIO RIBEIRO DOS SANTOS

O livro que a Escola Profissional da Lousã agora dá à estampa, da autoria de Dinis Manuel Alves, pretende-se homenagem aos jornalistas que fizeram o "Commercio da Louzã", e nomeadamente ao seu proprietário e director Júlio Ribeiro dos Santos.
Homenagem que se pretende de conteúdo útil, trazendo ao final do século páginas memoráveis de uma publicação do concelho da Lousã, quando o século mal despira as fraldas. Vale também como documento — pela reprodução de alguns dos textos publicados naquele periódico; como registo que interessa carregar até ao presente, como convite ao conhecimento, por parte das gerações mais jovens, de uma experiência de jornalismo assaz diferente da que se vive hodiernamente.
Valerá ainda como convite à leitura dos jornais de antanho, fascinantes mananciais de relatos e registos narrativos de um jornalismo que assumia uma causa. A República como pretexto para uma evocação, porque nunca será demais exortar-se o sagrado valor da Liberdade, tão bem definida nas páginas do "Commercio da Louzã" como "a noiva eterna das almas juvenis, o ideal sublime por que combatem todos".
A Câmara Municipal da Lousã associa-se a esta homenagem, atribuindo o nome de Júlio Ribeiro dos Santos a uma das ruas daquela simpática vila.
De referir, por último, que o Projecto "Lousã em Datas" conta com o apoio daquela autarquia, da Biblioteca Municipal da Lousã e da Delegação do Centro da Secretaria de Estado da Cultura."

Sem comentários:

Enviar um comentário